Esculpir o parto,

compartilhar renascenças

e respirar a noite verde.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

A pedra



No chão, uma pedra não conta histórias.
Estagnada em sua forma, ignora minhas andanças.
Objeto de minha curiosidade,
o significado da pedra
transcende,
e me sinto apenas um
abjeto
a se perder no tempo.








Eu

Não me obrigo pólo algum.
No esquadro de um mapa,
risco em qualquer cor minha sina.

Não me importa o caminho, nem o caminhar.

O que me importa é transpassar a aridez da existencia
e ser eu mesmo, desenhado em traços de ar.







Satélite da vida

O cultivo de pedra, minério, interstício.
O pensamento de nuvens, balão, estorvo.
O sentimento de Vênus de Milo, deserto,
incongruências.

Ao poeta se presta o sátelite da vida.







Sei que a pedra que empurro murro a murro

Sei que a pedra que empurro murro a murro
morro acima, e que volta sobre mim,
são lembranças revoltadas, sem fim,
de criança mal amada, de um casmurro.

Da distância em que me vejo e empurro
esta desgraçada pedra de rim,
de mitologia grega, de arlequim,
não ouço - da razão - o maldito sussurro

que parece prometer o paraíso.
Por isso perco a pose e tropeço
de novo, cada vez mais indeciso.

Porque ouço pensamentos pelo avesso
e minha língua amarrada e de improviso
se explode, gritando sem endereço.









É uma obsessão do homem o pensamento:

É uma obsessão do homem o pensamento:
reflete sobre tudo a todo instante,
e quando mais agudo e penetrante
seu saber, mais aumenta seu tormento.

É dor, a fome de conhecimento.
O desespero de quem tem em mente
que sim, a morte estarã sempre presente,
indiferente a todo sofrimento.

Em outro mundo, ele busca a verdade.
Em outra dimensão, busca conforto.
No mundo do ideal, outra realidade.

O pensamento é um imenso porto.
Na embarcação, está a humanidade.
Em terra firme, só quem já está morto!